segunda-feira, outubro 24, 2011

ESTADO DA NAÇÃO

Aqui publico uma interessante troca de ideias entre dois amigos, que se iniciou com o reencaminhamento deste mail:


António Lobo Xavier
Administrador não executivo da Sonaecom, da Mota-Engil e do BPI, António Lobo Xavier auferiu 83 mil euros no ano passado
(não está contemplado o salário na operadora de telecomunicações, já que não consta do relatório da empresa). Tendo estado
presente em 22 encontros dos conselhos de administração destas empresas, o advogado ganhou, por reunião, mais de 3700 euros.
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Estes é um dos indivíduos que vai rotineiramente à televisão explicar aos portugueses a necessidade de
sacrifícios e de redução de salários...
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José Pedro Aguiar-Branco
O ex-vice presidente do PSD José Pedro Aguiar-Branco e agora ministro da defesa é outro dos "campeões
dos cargos nas cotadas nacionais. O advogado é presidente da mesa da Semapa (que não divulga o salário do advogado),
da Portucel e da Impresa, entre vários outros cargos. Por duas AG em 2009, Aguiar-Branco recebeu 8 080 euros, ou seja, 4 040 por reunião.
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Estes é um dos indivíduos que vai rotineiramente à televisão explicar aos
portugueses a necessidade de sacrifícios e de redução de salários...
E agora é Ministro da Defesa.
-António Nogueira Leite
Segue-se António Nogueira Leite, que é administrador não executivo na Brisa, EDP Renováveis e Reditus, entre outros cargos. O economista recebeu 193 mil euros, estando presente em 36 encontros destas companhias. O que corresponde a mais de 5 300 euros por reunião.
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Estes é um dos indivíduos que vai rotineiramente à televisão explicar aos portugueses a necessidade de sacrifícios e de redução de salários...
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João Vieira Castro
O segundo mais bem pago por reunião é João Vieira Castro (na infografia, a ordem é pelo total de salário). O advogado recebeu, em 2009, 45 mil euros por apenas quatro reuniões, já que é presidente da mesa da assembleia geral do BPI, da Jerónimo Martins, da Sonaecom e da Sonae Indústria.


-Daniel Proença de Carvalho
Proença de Carvalho é o responsável com mais cargos entre os administradores não executivos das companhias do PSI-20, e também o mais bem pago. O advogado é presidente do conselho de administração da Zon, é membro da comissão de remunerações do BES, vice-presidente da mesa da assembleia geral da CGD e presidente da mesa na Galp Energia. E estes são apenas os cargos em empresas cotadas, já que Proença de Carvalho desempenha funções semelhantes em mais de 30 empresas. Considerando apenas estas quatro empresas (já que só é possível saber a remuneração em empresas cotadas em bolsa), o advogado recebeu 252 mil euros. Tendo em conta que esteve presente em 16 reuniões, Proença de Carvalho recebeu, em média e em 2009, 15,8 mil euros por reunião.
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Estes é um dos indivíduos que vai rotineiramente à televisão explicar aos portugueses a necessidade de sacrifícios e de redução de salários...
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Gestores não executivos recebem 7 400 euros por reunião!!!
Embora não desempenhem cargos de gestão, administradores são bem pagos.
Por cada reunião do conselho de administração das cotadas do PSI--20, os administradores não executivos - ou seja, sem funções de gestão - receberam 7427 euros. Segundo contas feitas pelo DN, tendo em conta os responsáveis que ocupam mais cargos deste tipo, esta foi a média de salário obtido em 2009. Daniel Proença de Carvalho, António Nogueira Leite, José Pedro Aguiar-Branco, António Lobo Xavier e João Vieira Castro são os "campeões" deste tipo de funções nas cotadas, sendo que o salário varia conforme as empresas em que trabalham.
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Estes são alguns dos indivíduos que vão rotineiramente à televisão explicar aos portugueses a necessidade de sacrifícios e de redução de salários...

POR ESTAS E POR OUTRAS ESTE " SÍTIO " NUNCA MAIS É UM PAÍS.

Vencimentos com valores médios em termos de carreira...

G.N.R...............? 800,00 - Para arriscar a vida.

Bombeiro...........? 960,00 - Para salvar vidas.

Professor...........? 930,00 - Para preparar para a vida.

Médico...........? 2.260,00 - Para manter a vida.

Deputado...... ? 6.700,00 - Para nos lixar a vida.



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Cara B.,
Não entres nessa onda do "eles" versus "nós". O país está de rastos, eventualmente com o contributo de alguns dos abaixo identificados, mas sobretudo com culpa de todos nós. Nós que maioritariamente reduzimos a nossa intervenção cívica ao depósito do voto nas urnas, nós que nos endividamos para ir de férias ou comprar plasmas, nós que fazemos mais "pontes" que o Duarte Pacheco, nós que temos um índice de baixas altíssimo, nós que, podendo, fugimos aos impostos, nós que trabalhamos pouco e mal (cá), nós que fazemos dez reuniões ou lautos almoços "de negócios" para decidir uma porra qualquer. Dir-me-ás - mas eu não sou assim! - o que, mais do que acreditar, sei. Porém, não vês à tua volta esses comportamentos? Podes afiançar que todos esses fulanos são no fundo uns anormais que nasceram com o cú virado para a Lua? Calculas o que pode estar em causa numa simples AG (assembleia geral) de uma grande empresa e a preparação necessária para fazer face a determinadas situações? Entendes que os polícias (que, de facto, são mal pagos) devem passar a ganhar € 5.000,00?
Esta retórica não é inocente, muito menos numa altura como a que atravessamos, e aqueles que podem capitalizar com a sua difusão são sempre os mesmos, da esquerda à direita, registe-se - é um discurso que encontras no Bloco e no PNR. Pretende fazer vir ao de cima as piores características do tal "povo", nomeadamente a inveja e falta de sentido de responsabilidade.
Estão a ser cometidas injustiças? Estão, muitas. O caminho é o mais correcto? Porventura não, não tenho a certeza. Poderíamos ter um governo mais bem preparado? De certeza. Mas não foi sempre assim em alturas de crise, guerra, revolução? A conjuntura infelizmente é de uma gravidade semelhante aos grandes momentos de viragem/fractura que estudámos nos livros de História.
Conta-se um episódio que não sei se é verídico (por acaso um comunista afiançou-me que é): Num encontro entre o Cunhal e o Olof Palme por alturas do PREC, disse o primeiro - só ficamos satisfeitos quando acabarem os ricos em Portugal. Respondeu o sueco - nós queremos é acabar com os pobres.
Não sou ingénuo, sei que por vezes, muitas vezes, com a nomeação do fulano A ou B para o cargo x ou y numa grande empresa, se pretende obter favores políticos ou traficar influências. O sistema favorece essas situações dúbias. Também sei que os mesmos que apontam a dedo essas cúpulas onde se cozinham os grandes negócios - que na óptica deles nos lixam a todos - são os mesmos que rejeitariam liminarmente um sistema que permitisse o lobby, como existe no Grande Satã - ou como eu prefiro chamar, nos EUA.
A esta hora estás a pensar "porra, reenvio um mail e tenho que levar com este c***** a quem pelos vistos a crise não bate à porta". Devo dizer que não tendo razão ou moral para grandes queixas, infelizmente também ainda não fui convidado para presidente da mesa de assembleia geral de uma grande empresa - o cargo máximo que tive foi o de vogal do conselho de jurisdição da Associação de Atletismo de Setúbal -, e a crise, de uma forma ou de outra acaba, também por me afectar, nem que seja pelo medo de daqui a seis meses ou um ano ter metade dos clientes e as mesmas despesas para pagar. Não alinho é nesse discurso.
Beijinhos (tem paciência comigo, hoje deu-me para isto mas amanhã já estou outra vez a falar de bola)
h.

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Caro h.,
Nem imaginas como concordo contigo… todos os dias digo a quem começa a dissertar sobre a crise: - Só temos aquilo que merecemos.
Somos um povo da treta, na grande maioria só olhamos para o nosso umbigo e pena temos de não ter um tacho como o dos senhores que te reencaminhei no mail. Vangloriamo-nos de fugir ao fisco ou de viver de subsídios, enquanto os gastamos nos cafés ou nas mesas de jogo. Fazemos empréstimos para nos casarmos, irmos de férias ou mesmo reformar a casa toda, mesmo quando não necessitemos. Mudamos de carro porque saiu um modelo novo ou o vizinho tem um melhor que o nosso. Jantamos fora todos os fins de semanas e colecionamos bilhetes de festivais. E por aí fora.
Nunca nos preocupámos que as empresas publicas estejam desde sempre a dar prejuízo, e que mantenham as regalias todas a trabalhadores e gestores, que deviam era ser despedidos ao invés de terem prémios que não merecem.
Nunca ninguém se preocupou que os bancos quase “obrigassem” as pessoas a utilizarem créditos desmedidamente. Nunca ninguém achou que fosse importante primeiro educar e depois gastar.
Nunca ninguém se preocupou que os professores fossem mal tratados por toda a comunidade educativa, que tenham de comprar canetas se querem escrever um sumário ou levar lenços de papel se necessitarem de ir à casa de banho. Há muitos anos que só se preocupam com os que nada querem fazer e ignoram os que ainda têm vontade de evoluir, de trabalhar e de fazerem algumas coisas benéficas e honestas neste país.
Nunca ninguém se preocupou em fiscalizar decentemente fugas ao fisco, baixas fraudulentas, roubos nas comparticipações dos medicamentos, roubos nas empresas, roubos aos consumidores, etc. O que interessava era valorizar quem os conseguia fazer, este é o espírito do português… e agora queixam-se.
Preocupam-me muito as crianças deste país, os doentes deste país (no grupo em que infelizmente estou incluída) e os cumpridores deste país que nem dinheiro para advogados têm e mesmo que tivessem não tem justiça.
Não fujo aos impostos, tenho pânico de não cumprir com as minhas responsabilidades e cumpro sempre com tudo a tempo e a horas, muitas vezes nem sei como. Só por este motivo fico tão indignada por não se poder responsabilizar os responsáveis pela desgraça deste país… e por muito que o povo não queira e não tenha trabalhado, ou tenha gasto mais do que o que podiam, não são as razões principais para estarmos no ponto em que estamos.



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Olha que há diferença entre tachos e os exemplos que deste naquele mail. Tratam-se de lugares de muita responsabilidade e que exigem grande capacidade (não digo que todos os nomeados a tenham). Além disso, apesar de muitos dos cargos serem não executivos, desde logo acarretam uma consequência para quem os aceita, na sua maioria advogados, a incompatibilidade de patrocinarem processos contra essas empresas. Portanto, ainda que negligenciemos a importância das três ou quatro reuniões anuais (até podia ser uma ou nenhuma), a mera aceitação daqueles cargos impedirá declinar o patrocínio em acções contra aquelas empresas, e muitas das vezes estamos a falar de processos que eventualmente resultariam num valor de honorários muito superior. Portanto, já vês que há muita coisa sem razão de ser, mas nem todas.
Bjs,
h.

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